sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Citações e Correlações com a Bíblia – Argumentos sobre a citação de Judas 1:14, 15

Uma das teses levantadas sobre esse fato é que Judas poderia ter citado Enoque como um registro de uma narrativa verdadeira, dum episódio único, sem necessariamente endossar o livro inteiro de Enoque como sendo canônico.
Realmente é um argumento de peso, já que Paulo cita alguns autores pagãos. Em Atos 17:28, Paulo cita de Arato, Phaenomena, linha 5; bem como em I Corintios 15:33, ele cita a comédia de Menander, Thais. Porém, há um agravante. Paulo não cita esses autores endossando a vericidade desses trechos, já no caso de Judas, ele o faz.
Afinal, citar um trecho de um livro na Bíblia, endossando esse trecho como verdadeiro, e ignorando o restante, é no mínimo intrigante. Não se pode ignorar que o fato desse livro ter um trecho citado, com certeza, aumenta o seu valor. Bem como não se pode esquecer que, aceitar que apenas um trecho é correto, dá margem para teorias que duvidam da centralização da verdade na Bíblia, apesar de não ser conclusivo.
Há uma grande dificuldade em relação a esse tema. É aceitável que uma citação não estabelece necessariamente a canonicidade do livro. Afinal, pode acontecer do restante do livro ter sofrido alteração. Como do mesmo modo, sem haver citação nenhuma, é aceitável que nos primeiros séculos da era cristã existiam livros que eram aceitos como verdadeiros e que não perduraram.


Veja mais sobre a discussão da natureza do livro de Enoque

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Citações e correlações com a Bíblia – A queda dos anjos e o surgimento de gigantes

Uma das partes mais conhecidas do livro de Enoque e que intrigam muitos estudiosos é a descrição que aparece do Livro dos Anjos (parte do livro de Enoque) que apresenta a queda dos anjos e o surgimento de gigantes.
Uma descrição similar é apresentada em Gênesis, pouco antes do dilúvio, a qual segue:

"Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.
Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;
então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. " Gênesis 6:4-6


Apesar de muitos concordarem do uso da expressão "filhos de Deus" para referênciar os anjos (ver o livro de Jó) e a expressão "filhos(as) dos homens" para humanos, nesse caso mulheres, alguns estudiosos alegam que esse texto de Gênesis usa o termo "filhos de Deus" para referenciar os reis, visto que essa tradução é aceita. Esse argumento é usado para discordar da possibilidade de se tratar da mesma descrição apresentada no livro de Enoque.
Segue o trecho de Enoque, retirado da Tradução livre para a língua portuguesa por Elson C. Ferreira, Curitiba/Brasil, 2003 (O livro "Apócrifos e pseudo-Epígrafos da Bíblia" traz esse trecho nos capítulos 6 e 7 ):


Capítulo 7

1E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas.
2E quando os anjos, (3) os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos.
(3) No texto aramaico lê-se "Sentinelas" (J.T. Milik, Aramaic Fragments of Qumran Cave 4 [Oxford: Clarendon Press, 1976], p. 167).
3Então seu líder Samyaza disse-lhes: Eu temo que talvez possais indispor-vos na realização deste empreendimento;
4E que só eu sofrerei por tão grave crime.
5Mas eles responderam-lhe e disseram: Nós todos juramos;
6 (e amarraram-se por mútuos juramentos), que nós não mudaremos nossa intenção mas executamos nosso empreendimento projetado.
7Então eles juraram todos juntos, e todos se amarraram (ou uniram) por mútuo juramento. Todo seu número era duzentos, os quais descendiam de Ardis, (4) o qual é o topo do monte Armon.
(4) de Ardis. Ou, "nos dias de Jared" (R.H. Charles, ed. and trans., The Book of Enoch [Oxford: Clarendon Press, 1893], p. 63).
8Aquele monte portanto foi chamado Armon, porque eles tinham jurado sobre ele, (5) e amarraramse por mútuo juramento.
(5) Mt. Armon, ou Monte Hermon deriva seu nome do hebreu herem, uma maldição (Charles, p. 63).
9Estes são os nomes de seus chefes: Samyaza, que era o seu líder, Urakabarameel, Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Azkeel, Saraknyal, Asael, Armers, Batraal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael, Arazyal. Estes eram os prefeitos dos duzentos anjos, e os restantes estavam todos com eles. (6)
(6) O texto aramaico preserva uma lista anterior dos nomes destes Guardiães ou Sentinelas: Semihazah; Artqoph; Ramtel; Kokabel; Ramel; Danieal; Zeqiel; Baraqel; Asael; Hermoni; Matarel; Ananel; Stawel; Samsiel; Sahriel; Tummiel; Turiel; Yomiel; Yhaddiel (Milik, p. 151).
10Então eles tomaram esposas, cada um escolhendo por si mesmo; as quais eles começaram a
abordar, e com as quais eles coabitaram, ensinando-lhes sortilégios, encantamentos,e a divisão de raízes e árvores.
11E as mulheres conceberam e geraram gigantes, (7).
(7) O texto grego varia consideravelmente do etíope aqui. Um manuscrito grego acrescenta a esta secção, "E elas [as mulheres] geraram a eles [as Sentinelas] três raças: os grandes gigantes. Os gigantes trouxeram [alguns dizem “mataram"] os Naphelim, e os Naphelim trouxeram [ou "mataram"] os Elioud. E eles sobreviveram, crescendo em poder de acordo com a sua grandeza." Veja o registro no Livro dos Jubileus.
12Cuja estatura era de trezentos cúbitos. Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los;
13Então eles voltaram-se contra os homens, a fim de devorá-los;
14E começaram a ferir pássaros, animais, répteis e peixes, para comer sua carne, um depois do outro, (8) e para beber seu sangue.
(8) Sua carne, um depois do outro. Ou, "de uma outra carne". R.H. Charles nota que esta frase pode referir-se à destruição de uma classe de gigantes por outra. (Charles, p. 65).
15Então a terra reprovou os injustos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Citações e correlações com a Bíblia – Enoque trasladado

A Bíblia pouco fala de Enoque e pouco se sabe a respeito dele. No livro de Hebreus, o autor fala que Enoque foi trasladado:
Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.

Contudo, a Bíblia não deixa isso explicito, apenas uma citação vaga em Genesis que pode levar a essa dedução, mas isso seria uma interpretação:

"Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si."

Isso dá margem para a possibilidade do autor de Hebreus conhecer o livro de Enoque (que era difundido e utilizado como verdadeiro entre os judeus e até pelos primeiros cristãos), que de fato fala de Enoque ter sido trasladado:

Enoque 70 -

1 Depois disso, o seu nome no decurso da sua vida, será elevado àquele filho do Homem e ao Senhor dos Espíritos e subtraído aos habitantes da terra. Ele foi transportado pelas sendas do Espírito, e o seu nome desapareceu do meio deles.

2a A partir daquele dia não fui mais contado entre eles, e ele depositou-me entre duas regiões celestes, entre o Norte e o Ocidente.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Citações e Correlações com a Bíblia – Judas 1:14, 15

Existe uma citação literal na Bíblia do Livro de Enoque (na epístola de Judas), ainda várias outras correlações que serão citadas posteriormente.

Livro de Enoque 1:6 (&2:1)

“Eis que Ele vem com dezenas de milhares dos Seus santos para executar julgamento sobre os pecadores e destruir o iníquo, e reprovar toda coisa carnal e toda coisa pecaminosa e mundana que foi feita, e cometida contra Ele.”

Judas 1:14,15

“Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades,para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.”

Convenções

Como a organização dos capítulos e versículos dos livros apócrificos em suas publicações não segue um padrão como o da Bíblia, mas dependem muito da editora, bem como quem organizou os textos, vou usar como referência a organização utilizada no livro "Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia - Fonte Editorial". Ainda, colocarei uma referência secundária (precedida por ‘&’): Tradução livre para a língua portuguesa por Elson C. Ferreira, Curitiba/Brasil, 2003.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Introdução

A cada dia vem crescendo o interesse por textos apócrifos, principalmente os estudiosos da religião/tradição judaico-cristã. Entre esses textos, muito tem se falado do livro de Enoque (I Enoque).
O livro de Enoque, que teria sido escrito por Enoque, ancestral de Noé, é um pseudo-epígrafo mencionado por algumas cartas do Novo Testamento (Judas, Hebreus e 2ª de Pedro). Esse livro fazia parte da cultura Judaica e os primeiros seguidores de Cristo o mencionavam abertamente, até a elaboração da Vulgata, por volta do ano 400. Após isso ele caiu em desuso. Contudo, o livro traz um conteúdo bastante intrigante, visto que aborda vários assuntos que aparecem posteriormente na Bíblia.
O livro de Enoque também é chamado de Enoque etíope, visto que apenas uma cópia foi preservada na totalidade, em etíope. Este documento foi encontrado, incompleto, entre os Manuscritos do Mar Morto.
Em Qumram, foram encontrados na Gruta 4, sete importantes cópias que foram atestadas pela versão Etíope. Embora estas cópias não sejam idênticas na totalidade foram encontradas em conjunto com cópias do Livro dos Gigantes referenciadas no capítulo IV do livro de Enoque.
Existem outros dois livros chamados de Segundo Livro de Enoque e Terceiro Livro de Enoque, considerados de menor importância.